Diversidade

Consumir com propósito: marca londrinense de moda autoral prega o slow fashion como ato político

por Mariana Paschoal 29.06.20

Consumir de maneira consciente é algo mais fácil do que pensamos e a atitude pode ser aplicada em ações simples e corriqueiras, como comprar uma nova peça de roupa.

O consumo consciente do vestuário é pautado, principalmente, pelo slow fashion, um conceito que surgiu pela primeira vez em 2004, em Londres, através das palavras da escritora de moda Angela Murrils. Quem nos contou isso foi Thaís Russi, empreendedora da marca londrinense de roupas Tulipa na Cor. “Esse termo foi inspirado no conceito de slow food, que se originou na Itália nos anos 90 e que se adaptou para o mundo da moda”, explica Thaís.

Assim como o slow food - que se opõe ao tão conhecido fast food - o conceito de slow fashion tem como objetivo despertar a consciência ética e o consumo de produtos com maior qualidade, feitos em pequena escala e que vão contra a massificação da moda atual e do trabalho escravo. “Acredito que ao trazer para os consumidores um novo olhar, mais humano e preocupado com a procedência das roupas, podemos buscar um cenário de inclusão, consciência de compra, menos ansiedade em ter e mais entendimento sobre ser, e uma educação sobre como lidamos e gastamos o nosso dinheiro. Acreditamos nesse movimento como um ato  político.”, esclarece Thaís.

O antagonismo entre slow e fast fashion fica muito claro quando comparamos grandes lojas de departamento com renome mundial a marcas locais, como a Tulipa na Cor. A começar pela origem e trajetória de cada uma. A Tulipa, segundo Thaís, começou sem pretensão nenhuma e através da inquietação em unir o trabalho com a maternidade - o propósito e a aproximação da marca com a vida real começam por aí. Thaís precisava estar mais perto da missão de ser mãe. “Assim, iniciei um curso de corte e costura e comecei a fazer roupas para mim. Foi aí que surgiu o interesse de pessoas e o meu feeling de entender que eu poderia tornar isso minha fonte de renda e unir trabalho e maternidade”, conta.

A empreendedora está por trás de todas as peças da marca, o que prova, mais uma vez, que no slow fashion cada item vendido tem uma história e um esforço pessoal humanizado por trás. “Como não sou formada em moda, desde então venho estudando, fazendo pesquisas e tentando entender como colocar isso no mundo de uma forma que faça sentido para mim como ser individual e como mãe, em tentar construir um mundo melhor para essas criaturas (filha e marca) que vem crescendo”, continua.

Foi por essas e outras características que a empreendedora se identificou com o slow fashion que, segundo ela, também faz muito sentido como consumidora. Thaís entende o slow fashion como uma rede cíclica de apoiar a mão de obra local, saber de onde vem o que está sendo consumido, e contribuir para essa relação direta entre produtor e consumidor. “Vejo também como uma oportunidade de entender que meu dinheiro tem seu valor e pode ser usado como forma de me contrapor a essa globalização em massa que só nos traz ansiedade em TER, causa sérios impactos mentais e ambientais e não fala nada sobre o nosso ser”, declara.

 
 
 
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Peças exclusivas

Uma característica marcante da slow fashion é a exclusividade de cada peça, diferente das grandes lojas de departamentos que criam itens em massa e iguais. Quem nunca teve uma roupa igual a de outra pessoa?

No caso da Tulipa na Cor, a ideia de trazer exclusividade para algumas peças vem do reuso de tecidos que "sobram” da produção e que seriam, em tese, descartados. O descarte dos tecidos não acontecem porque a equipe busca reaproveitar tudo, trazendo personalidade para as peças. “Vejo como uma possibilidade incrível em desconstruir alguns padrões impostos pela moda em relação a cores e estampas, porque moda pra mim é você se vestir de você e se sentir bem”, argumenta Thaís. “Essas peças vem com um proposta de quebra e encontro com o ser individual, além de ter apenas uma peça como essa no mundo todo”, prossegue.

 
 
 
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Histórias por trás do processo criativo

Clientes da Tulipa sabem exatamente quem são os responsáveis pela criação das peças que compram. Para Thaís, essa aproximação gera uma energia mais humana, sensibilidade e entendimento. “Produzir algo exige você entender qual impacto irá causar na vida das pessoas. Nosso propósito como marca, além de fortalecer a mão de obra local, fazer o reaproveitamento para gerar menos lixo e impacto no meio ambiente e ter um processo de criação que respeite o tempo de cada indivíduo, é prezar pela diversidade de cada ser e fazer com que ele se reconheça como se é”, afirma.

Quem ainda não é cliente Tulipa pode ter um gostinho de quem está por trás das peças da marca através dessa matéria: além da Thaís, o processo criativo da empresa conta com a ajuda da Edna, que costura todos os itens e trabalha com isso desde os 14 anos para ter uma renda familiar. “Eu vejo que talvez tenha sido falta de opções que trouxe a Edna para a costura, porque ela tinha o sonho de fazer faculdade em assistência social, mas casou cedo, teve três filhos e aquela pressão de estar em casa trabalhando, sendo dona de casa, mãe e uma boa esposa”, conta Thaís.

De acordo com a empreendedora, a equipe começou a entender sobre os anseios, desejos e o que a Edna considera a parte negativa na costura que era: mão de obra explorada, facções vindo com o preço final de costura, trazendo lotes com muitas peças querendo pagar R$ 2 reais para costurar uma peça que pelo tempo de trabalho e dedicação seria R$ 10, ou seja, ela se sentia cansada e desestimulada.

Por entender isso, Thaís buscou sempre a troca de ideias e dar um lugar de fala para a profissional. “Exigimos que o trabalho seja feito com calma, a um preço justo, com carinho, desenvolvido no tempo dela, quando ela está bem para desenvolver aquele trabalho, porque acreditamos que tudo isso influencia no ciclo e na proposta que a marca quer trazer pro consumidor final”.

A Tulipa também conta com o trabalho de José, que ajuda na parte do corte de peças produzidas em grade (tamanhos P, M, G e GG). José trabalha com corte desde 1979. São mais de 40 anos no ramo e, segundo Thaís, ele sempre trabalha com um sorriso no rosto.

Esses e outros aspectos da Tulipa na Cor podem ser utilizados como inspiração para marcas que já existem e para aquelas que ainda não saíram do papel, mas que desejam fazer a diferença e oferecer à população um consumo mais consciente e com propósito. “Acredito que todos nós podemos nos questionar sobre a forma massificada que estamos sendo levados a viver”, finaliza Thaís.

Para conhecer a Tulipa na Cor, acesse: @tulipanacor.

Foto: Tulipa na Cor

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