Era uma sexta-feira treze, ainda na ressaca do carnaval, as aulas tinham voltado e me lembro de conhecer a turma nova neste exato dia. Decidi voltar a pé da universidade e apanhar um ônibus em Botafogo. Parei em frente ao cinema de rua da Voluntários, onde costumo frequentar religiosamente, e olhei os filmes que estavam em cartaz. Por conta da festança recente, minhas economias se encontravam – digamos, em recessão temporária e, consequentemente, as idas ao cinema teriam de ser reduzidas de duas para uma vez na semana. Decidi por bem que reservaria a sessão para a próxima segunda, dia cujo ingresso barateia. O filme escolhido, sob nenhuma outra hipótese, seria o longa brasileiro ‘Fim de Festa’, mas mal sabia eu que aquele era verdadeiramente o FIM DA FESTA.

Com o perdão do fajuto trocadilho, mas indispensável neste caso, nem preciso lembrar-vos, meus caros e futuros leitores, dos episódios que nos aguardavam os próximos meses. Como um fusca sem freio rumo a derradeira descida, dali para frente nos encontraríamos em estado calamitoso mundial: veio, então, a pandemia e o decreto do isolamento social. Ahhh, eu pensava, se eu pudesse voltar naquela sexta-feira morna, meio sem grana, meio sem graça, mas cheia de expectativas para o primeiro semestre... as aulas, os colegas, os trabalhos, as mostras de cinema que tanto gosto de comparecer e que por aqueles dias, coincidentemente, eu também havia ido não só como espectadora, mas como câmera, para filmar a primeira aula de um curso sobre o cinema dos Lumiére no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB).

A vida na cidade que escolhi morar é um caos, mas também um inebriante delírio para quem gosta de natureza, praia, pedalar, ir a shows e, claro, ir ao cinema. Mudei pro Rio de Janeiro há poucos mais de dois anos e da minha cidade natal, Londrina, tenho as melhores memórias do início da minha juventude. Cá pra nós, já não tenho mais vinte e poucos anos (rs), mas ia assiduamente as Tilt’s do Valentino, tomava cerveja no Bar do Jaime, aguardava ansiosamente ao FILO e a agenda dos filmes em cartaz no Cine Com Tour UEL. Amava o Chá das Cinco (acho que fechou faz anos!), o famoso open no NY, e quantas vezes cobri o Festival Kinoarte de Cinema pelo Trem das Onze da Rádio UEL – essa, sem dúvida, minha temporada favorita, pois era quando os principais filmes mais “alternativos” estreavam na cidade.

Minha primeira saída de Londrina foi em 2013, quando me mandei pra Santa Catarina com o objetivo de trabalhar como repórter num jornal maior. Antes disso, fiz uma passagem pela Folha, como repórter fotográfica, e nunca esqueço que minha última pauta foi cobrindo uma rebelião na Casa de Custódia (esse dia foi louco!). Fiquei uma temporada fora e voltei em 2015. No retorno, peguei a última formação da equipe do extinto JL, produzia conteúdo num canal de Youtube em que falava sobre assuntos diversos e criei um perfil no Instagram sobre cinema nacional, o Cine Brazuca.  Cobri mais algumas vezes o festival de teatro e o de cinema, mas ao final deste período, quando terminei meu mestrado na UEL, decidi fazer as malas de novo para dar sequência aos estudos e também vivenciar novas experiências.

Confesso, sou dessas pessoas de alma inquieta, e que se deixa levar pelo desejo de explorar o novo, o outro, o desconhecido. Por maior que seja o risco, sempre prefiro ir que ficar. Entre chegadas e partidas, o cinema continua sendo uma das minhas maiores paixões. Certamente, contribuir com esta coluna falando sobre a arte de contar histórias com imagens atravessa não só minha caminhada profissional, como meu espírito e minhas relações pessoais. O cinema, como diria o filósofo e psicanalista Guattari, é o divã dos pobres, e sempre foi o lugar onde encontro uma espécie de refúgio e sobrevivência. Em tempos de isolamento, coube aos cinéfilos ressignificar esta caixa escura e embora nem sempre vazia, quase sempre solitária.

Durante a quarentena, assisti terror, ficção cientifica, filmes coreanos, brasileiros (sempre!), maratonei alguns diretores que sonhava em conhecer o lado b, li muito e recentemente recebi o convite do Londrinando para escrever uma coluna de cinema (a princípio, quinzenal). Espero, através deste canal, destacar os filmes que me emocionam e que de alguma maneira falam sobre meus medos, minhas fantasias, minhas memórias e que independente do espaço, continuam afetando o nosso imaginário – ainda que seja na telinha do notebook velho ou na tv compartilhada da sala de estar.

A propósito, ‘Fim de Festa’ é ótimo e está disponível nas plataformas de streaming, incluindo o Net NOW. Prestigie o cinema brasileiro, principalmente o pernambucano, e sobre estas e outras produções, falaremos em breve. Até a próxima.

 

(Sobe créditos finais).

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