Já tem algum tempo que venho pensando nas palavras comparação e aceitação. Enquanto me preparava para escrever este texto, lembrei de um artigo que escrevi para concluir uma disciplina do mestrado, que tem por título: “Editoriais de moda: uma análise imagética e semiótica da construção dos padrões de beleza feminina”. É claro que não cabe aqui discorrer detalhadamente, principalmente do ponto de vista semiótico, qual foi a análise apresentada neste trabalho, mas ele me fez refletir, com um olhar voltado para a história, de como os padrões e ciclos comparativos se repetem.

Neste trabalho, o meu objeto de pesquisa foi a revista Manequim, e analisei especificamente alguns editoriais de moda. É importante pensar que mudanças corporais e a definição dos padrões de beleza feminina podem ser observadas desde os primeiros resquícios presentes na história. Acompanhando todas essas mudanças, as revistas de moda não somente informam sobre as últimas tendências, mas também servem como um guia de comportamento, saúde, bem-estar; influenciam nas relações afetivas e demais questões que envolvem o universo feminino.

Numa das minhas andanças por sebos, encontrei um exemplar da revista do ano de 1968...um ano que, por si só, poderia ser pauta para muitos outros textos, pois foi marcado por grandes transformações e revoluções! Mas, a cereja do bolo foi encontrar um editorial de moda que fazia propaganda para uma marca de biquínis, tão modernos, que poderiam facilmente serem usados hoje. Um editorial que, sem dúvidas, estava muito à frente do seu tempo, como tantas coisas que aconteceram em 1968: o surgimento da pílula anticoncepcional, a ascensão do feminismo, a emancipação da mulher no mercado de trabalho...a ideia de que as mulheres estavam pouco a pouco rompendo com os preconceitos e desigualdades impostas por décadas me deixou fascinada, até ler a parte textual do editorial, ou seja, as “dicas de moda” para “usar adequadamente” os modelos de biquíni ali expostos (vou colar aqui alguns trechos tal e qual estavam na revista):

Se o seu gôsto é pelos detalhes ousados, pelos tamanhos reduzidos, veja: duas sugestões que só valem para as magras, sem gordurinhas extras.

Aqui: o inteiriço em Rhodianyl-Helanca da Alvin é a solução para as não tão jovens, nem tão magras.

À esquerda: biquininho de algodão estampado, perfeito para a mulher-palito."

É claro que dificilmente encontraremos, hoje, declarações deste tipo. Se a revista Manequim fizesse qualquer comentário que induzisse a algum tipo de discriminação, seria arduamente criticada – melhor dizendo, cancelada. Mas o que eu quero dizer é que, retornando à analise do editorial de 1968 e pensando agora na parte visual – nas fotografias, notei que a única coisa que indicava diversidade eram os modelos de biquínis: alguns menores, outros maiores...havia os lisos, havia os estampados. No entanto, observando as modelos, havia uma nítida homogeneização de suas características físicas: todas altas, magras, com cabelos longos e poucas curvas – tal e qual o padrão corporal vigente na década de 1960 (coincidentemente ou não, o mesmo padrão da atualidade).

Pensando nos dias de hoje, infelizmente não consigo pensar que essa homogeneização não exista mais. É claro que palavras como representatividade e diversidade já fazem parte do nosso cotidiano, mas, os padrões ainda existem – e sempre vão existir. Não de forma tão imposta como nas décadas passadas, mas creio (aqui exprimo uma opinião totalmente pessoal, mas acreditando que seja a realidade de muitas) que, muitas vezes, o nosso maior inimigo esteja dentro de nós mesmas, na dificuldade de aceitar quem realmente somos.

Que acione o botão do “dislike” ou “unfollow” quem nunca olhou para uma blogueira da “geração Pugliesi” e não desejou ter o mesmo corpo que o dela. Quem nunca se incomodou com as celulites, com as estrias, com a “pancinha” de chopp ou com as marcas de uma gestação? Quem nunca se sentiu no fundo do poço por se sentir feia, rejeitada e indigna de ser amada, por ser exatamente quem você é? Se você se identificou com isso, eu quero te dizer que, embora exista uma grande dificuldade em se aceitar, a culpa não é somente sua. Somos bombardeadas dia após dia em nossas redes sociais por esses padrões (praticamente inalcançáveis) e que influenciam diretamente em nossas questões comportamentais, nossa autoestima, nossa identidade. Optar por um estilo de vida saudável não é errado, muito pelo contrário! Errado é ser escravo do seu próprio corpo, é ir na contramão de suas vontades, é tentar se encaixar em espaços que não correspondem naquilo que você nasceu pra ser.

Muito mais perigoso do que as dietas malucas que às vezes fazemos, é a tal da comparação. Toda comparação acaba com a nossa identidade...queremos ser a cópia dos outros ao invés de ser a versão original de nós mesmas. Comparar-se é rejeitar a si mesma, é querer viver o que o outro vive, é querer vestir o que o outro veste, é querer ser o que o outro é. A comparação é sorrateira, às vezes ela acontece sem a gente perceber. Às vezes ela pode ser misturada com inveja e ambição. Às vezes ela pode ser tão sacana, que nos deixa em quadros depressivos.

Mas, e a aceitação? É um processo diário. É um exercício constante. É lembrar-se todos os dias de quem você é! Há 3 lições que aplico em minha vida como um mantra, e quero deixar aqui registrado caso você tenha tido a paciência de ler este texto até o final:

1) Descubra a sua identidade: somos exemplares únicos de nós mesmos! Pare e pense: o que você gosta em sua aparência? Quais são suas qualidades, suas habilidades e talentos? Qual é o seu propósito de vida?

2) Faça as pazes consigo mesma: ame sua aparência, ame seu corpo...cuide daquilo que te alimenta: não estou falando necessariamente de hábitos saudáveis, mas como você alimenta a sua mente! Quais pessoas você tem acompanhado em suas redes sociais? Elas te motivam a ser melhor ou destroem sua autoestima?

3) Viva uma vida com significado! Os likes, os seguidores, as roupas descoladas e os padrões de beleza um dia acabarão. O que realmente vai ficar são as boas memórias do que você viveu, suas experiências, suas histórias.

Você é um design exclusivo.

Não há ninguém como você neste mundo.

Ame-se, sendo exatamente quem você foi projetada para ser!

Foto: cottonbro no Pexels.

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