Tenho pensado muito sobre sonhos nos últimos meses... E não só pensado, mas sonhado também. Nessa onda, comecei a participar de um grupo de estudos e adivinha qual o primeiro assunto? Sonhos. Muito disso é certamente porque a pandemia trouxe esse tema para a ordem do dia - ao que parece, as pessoas que estão conseguindo dormir andam tendo sonhos estranhos.

A questão é que a forma como a gente experimenta o sonho diz muito sobre como vivemos o dia. Em entrevista ao GaúchaZH, o neurocientista Sidarta Ribeiro, autor de O oráculo da noite, afirma que os sonhos nos ensinam a vislumbrar o amanhã: “Se as pessoas não sonham, não veem futuro”, diz ele. Para ele, sonhar nos ajuda a imaginar e a enxergar saídas possíveis, o que contribui inclusive para a nossa sobrevivência.

O problema é que não se sonha sem dormir e, de acordo com dados de 2018 e 2019 da Associação Brasileira do Sono (ABS), o brasileiro está dormindo menos e relatando cada vez mais problemas com o sono – o número aumentou de 56,7% para 60,4%. A “epidemia de privação de sono”, como os especialistas chamam, acontece por diversos motivos, entre eles: correria da vida contemporânea, pressão por produtividade, uso excessivo de smartphones, utilização de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos, álcool... A conta é simples: estamos dormindo pouco ou mal. Sem sono, menos sono REM, quando são produzidos os sonhos. Será que estamos desaprendendo a sonhar?

Não é curioso como a vida contemporânea parece nos trazer dificuldades em realizar essa tarefa fundamental a praticamente todas as espécies? Como mostra a matéria da BBC, o sono é essencial para nós assim como oxigênio, comida e água. Muito mais do que poupar energia, sonhar reorganiza nossas memórias e equilibra nossas emoções.

A noite é o espelho do dia. E agora cabe a nós perguntar: como nossos dias têm sido? Como eles começam e como terminam? Sabe aquela passadinha pelo feed do Instagram antes de dormir? Ou aquela série que você coloca só para ajudar a “pegar no sono”? Nada bom. E quando acordamos isso se repete... O despertador toca e a gente não só o desliga, mas também é bombardeado por uma série de demandas. E isso sem nem levantar da cama! Não por acaso, algumas pessoas tem retornado ao velho despertador para evitar esse excesso de mensagens ao dormir e ao levantar...

Durante a pandemia a coisa tende a ficar ainda mais difícil, já que a rotina mudou drasticamente. Como não sentir ansiedade em tempos assim?  Mas voltemos ao sono... A Associação Brasileira do Sono fez um guia com recomendações e orientações de rotina para favorecer a qualidade de vida e de sono. Então anota aí:

  • Estabeleça uma rotina diurna
  • Alimente-se bem
  • Tente trabalhar em horários definidos e se desligue disso depois que finalizar
  • Alongue-se de tempos em tempos e faça exercícios (vale deixar o elevador de lado e começar a subir escadas)
  • Converse com seus amigos e familiares. Rede de apoio é fundamental para a saúde mental
  • Inclua, se possível, coisas prazerosas para você durante o dia, como tocar algum instrumento, fazer um DIY, aprender novas receitas...
  • De dia, exponha-se à luz do sol! Aproveite o sol para se permitir uma pausa, seja dentro de casa ou em uma caminhada por perto
  • Cultive o contato consigo mesmo – que tal escrever diários ou aprender a meditar?
  • Estabeleça uma rotina noturna
  • Procure dormir e acordar mais ou menos no mesmo horário
  • Respeite a sua necessidade de sono (ela varia de pessoa para pessoa)
  • Evite equipamentos eletrônicos, como celular, notebook e televisão antes de dormir
  • No lugar das telas, leia um livro/revista  ou ouça música antes de dormir
  • Tá difícil de dormir mesmo assim? Procure ajuda! Psicólogos, psicanalistas, terapeutas florais, aromaterapeutas, neurologistas... há muitos caminhos. Busque o melhor pra você!

Para terminar, deixo este trecho do livro A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, para que você não coloque seus sonhos (os da noite e os do dia) em segundo plano. Eles tem muito a nos ensinar:

"Quando eu era criança, não parava de voar sonhando, bem alto no peito do céu ou no mais fundo das águas. [...] Nós, Yanomami, quando queremos conhecer as coisas, esforçamo-nos para vê-las no sonho. Esse é o modo nosso de ganhar conhecimento. [...] É esse nosso modo de ficar sabido. Nós, habitantes da floresta, nunca
esquecemos os lugares distantes que visitamos em sonho." 

Imagens do post: 愚木混株 Cdd20

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