Contrariando a tudo e a todos, agosto no cinema até que foi um mês bastante significativo; um dos principais festivais do circuito nacional, o REcine - Festival Internacional de Cinema de Arquivo, fez sua estreia na onda das exibições virtuais, o Festival de Cinema Brasileiro de Gramado anunciou os longas da próxima edição (que deve acontecer já no mês que vem), a 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo divulgou que será realizada 100% online e, apesar de polêmico, o tal festival De Volta Para o Cinema, que incentiva a reabertura das salas com as normas, protocolos e pipipí papapá, promete a exibição de clássicos e blockbusters. E eu, saudosa daquela salinha escura onde a gente não escuta a chuva que cai, o frio que desce, sigo aqui dentro onde predomina esse amor que me aquece: a Netflix!

Se até as lives do Instagram trazem aconchego e afago para o seu lar, imagina se deparar com os títulos recém adicionados no catálogo do streaming mais popular do país?! Uma verdadeira gentileza, eu diria! Pois bem, e é nesse ritmo de relaxamento do isolamento social, que fui desafiada a manter uma coluna de cinema exatamente no ano cujas estreias foram na sua maioria canceladas, e que vivemos num brilho eterno dos filmes que um dia a gente assistiu versus os filmes que um dia você baixou, mas nunca checou se a legenda tinha vindo junto. Nos momentos de maior dedicação, confesso, ainda me esforço para ver uma coisinha ou outra das inúmeras programações online, mas depois de um dia no batente, a gente só quer mesmo esquentar uma sopa, escolher um troço e relaxar.

E foi num desses fins de noite que liguei a TV e me peguei revendo um filme lá de 2012, mas que ainda me soa um bocado atual. Ele, que foi um verdadeiro substituto para 500 Dias Com Ela nos tópicos das conversas sobre cineminha hipster, que trouxe temas tão duros mas com leveza e humor delicados, e que nos colocou frente a uma Hermione Granger crescida que eu não dava a menor conta de lidar: As Vantagens de Ser Invisível. Recentemente incluído no catálogo da Netflix Brasil, o longa, cujo título é homônimo ao livro, impactou minha rodinha de amigos da época e a mim, de maneira muito pessoal, trouxe uma emoção dessas boas de sentir no cinema; além, é claro, de entrar para minha lista de filmes com Heroes do David Bowie na trilha sonora. Não sei vocês, mas eu aqui já contabilizo uns 12, incluindo Jojo Rabbit (bicho, chorei tanto naquela última cena! Socorrr).

Ainda no começo do ano, antes de tudo virar isso aqui que a gente já sabe, eu tinha ido a um musical do David Bowie, Lazarus, adaptado no Brasil com direção de Felipe Hirsch e estrelado por Jesuita Barbosa. Foi uma apresentação linda – embora minha resistência com musicais me acompanhe desde a tenra idade, e me lembro de ter vibrado intensamente com a performance de Life On Mars executada num solo de baixo acústico. As luzes do palco praticamente invisíveis, um ponto de luz isolado e focado no instrumento, e a tal sequência final de Rabbit que ainda fragmentava meus sentidos mais gloriosos e apoteóticos sobre o filme. É nesta mesma frequência que vibro quando penso na personagem da Emma Watson, Sam, atravessando o túnel com o rosto ao vento e Charlie - protagonista de As Vantagens e interpretado pelo ator Logan Lerman -, olhando-a profundamente na certeza de que acabara de descobrir o amor.

Eu tinha encontrado um amor na época que fui a Lazarus... Sim, mais uma dessas histórias de romance, em meio a tantas, que começou ali no pré-carnaval, em janeiro, e acabou terminando na pandemia. Foi bonito, breve, intenso, doeu um pouco, mas a gente acaba se acostumando com as vantagens de ser invisível. Trocadilhos e dramas a parte, uma das coisas mais fortes no filme e que ficam para mim, certamente é a relação entre Sam e Charlie – "Aceitamos o amor que achamos merecer". Isso é tão forte que mesmo depois de anos sem escutar esse diálogo do filme, anotei num caderninho a fim de não esquecer que o amor é brega, mas é genial, e que The Smiths é a melhor banda para corações partidos!

Foi em As Vantagens que também conheci Dexys Midnight Runners, pois é deles a música que os amigos Patrick e Sam dançam num baile no início da amizade com Charlie. Também a canção Dear God, de uma outra banda que agora eu não me lembro o nome, mas que ouvi diversas vezes e que me marcou fortemente, principalmente porque é nesta cena que Charlie fala sobre a relação entre Patrick e o garoto Brad – adoro o personagem do Patrick, seus dilemas, como ele está sempre rindo (ainda que de desespero), e amei quando o ator que o interpretou, Ezra Miller, apareceu em Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald. Os principais atores de As Vantagens foram elogiados na época de estreia do longa e vale lembra que todos permanecem em Hollywood.

É curioso que hoje, já um pouco mais velha, continuo me reconhecendo em quase todos estes personagens. Acredito que meu adolescente interior ainda adora a sensação de ouvir Heroes pela 254894125 vez e nunca enjoar das cenas que são embaladas por essa trilha. A propósito, no programa de Lazarus, o musical que mencionei, há um descritivo para cada música incluindo o contexto em que o camaleão do rock a compôs. Ao contrário das interpretações sobre essa letra e o fato dela sugerir uma espécie de hino da boa vontade, ela expressa uma dimensão irônica; Bowie vivia num período superdependente de bebida alcoólica e escreve uma canção dolorosa, que se agarra a um futuro otimista diante de um presente cheio de desilusões. Adorei rever esse filme.

(Sobe créditos finais).

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