Estamos na contagem regressiva para a principal semana de moda do Brasil – o São Paulo Fashion Week –, em sua primeira edição 100% digital, nos dias 4 a 8 de novembro. Celebrando os 25 anos do evento, em um formato totalmente diferente, mas adequado ao momento presente, o SPFW apresentará mais de 30 marcas, com projeções em diferentes pontos da cidade de São Paulo.

Nas palavras de Paulo Borges, fundador e diretor criativo da semana de moda: “O momento exige criatividade. Vamos trazer para as ruas o que antes era visto dentro de uma sala de desfiles”.

A necessidade de adaptação ao cenário pandêmico inspirou, também, outra mudança extremamente necessária: após longos 25 anos de evento, o SPFW instituiu, para a edição de 2020, uma cota racial para as marcas participantes do evento!

Após uma série de reuniões promovidas pelo coletivo Pretos na Moda e os responsáveis pelo evento SPFW, foi criado um tratado moral que visa formar um mercado mais diverso, garantindo a participação de modelos racializados. A partir desta edição, todas as marcas que fazem parte do lineup do evento serão obrigadas a ter no mínimo 50% dos seus castings compostos por negros, afrodescendentes e/ou indígenas.

O SPFW é o primeiro evento de moda no mundo a tomar essa decisão, que por si só é histórica e espera-se que influencie outros eventos. O racismo na moda já foi pauta de um outro texto meu aqui da coluna, vale a pena a leitura :) assim você entenderá, ainda mais, o quanto essa decisão foi importante.

Uma outra novidade é que o evento contará, também, com seis marcas estreantes: ÀLG, etiqueta "irmã" da À La Garconne de Alexandre Herchcovitch e Fabio Souza; Freiheit, de Marcio Mota; Irrita, de Rita Comparato; Martins, de Tom Martins; Misci, de Airon Martin; e a grife homônima de Renata Buzzo.

Tomei a liberdade de falar um pouquinho sobre cada uma delas, não só do ponto de vista técnico, mas sobretudo dos seus diferenciais: afinal de contas, o mercado de moda tem assumido, a cada dia mais, a necessidade de inovação, de quebra de paradigmas, de mudanças que reflitam – de fato – em nossa sociedade.

Viver uma moda com um propósito que vai além do vestir tem sido o meu norte, e de alguma forma, essas seis marcas também carregam consigo essa diferenciação.

  • Irrita: modelagem diferenciada, para corpos diferenciados

Depois de participar de várias edições do SPFW com a extinta Neon (marca fundada em 2003 ao lado de Dudu Bertholini, que encerrou as atividades em 2013), a estilista Rita Comparato agora retorna ao evento com a sua etiqueta própria, a Irrita, lançada em 2018, em uma apresentação em vídeo.

A marca faz um excelente trabalho de modelagem, com corte e caimentos pensados para vestir bem, em todos os corpos. A estamparia das peças, desenvolvida pela própria Rita e, também, por meio de parcerias criativas (com o artista gráfico Andrés Sandoval e com o artista plástico Rafael Silvares, por exemplo) são o resultado de uma cartela de cores inspirada após uma viagem que a estilista fez à Guatemala e Panamá.

 
 
 
 
 
Ver essa foto no Instagram
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por IRRITA (@irritaoficial) em

 

  • ÀLG: streetwear a preços mais acessíveis

A genialidade de Alexandre Herchcovitch+ Fabio Souza deu vida à ÀLG, marca irmã da À La Garçonne, que também produz as roupas com tecido encontrado em estoque, mas com tiragem maior e preço mais acessível. Lançada em novembro de 2018, a ÀLG é inspirada no streetwear, destinada essencialmente aos jovens. O grande diferencial da marca, além da escolha estratégica dos tecidos, é que ela não faz distinção de gênero e nem de sazonalidade.

Seu primeiro desfile foi em fevereiro de 2019, mas será sua grande estreia no SPFW. Também no evento, Herchcovitch apresentará um minidocumentário sobre sua carreira.

 
 
 
 
 
Ver essa foto no Instagram
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por ÀLG (@alg.brand) em

  • Freiheit: profundidade conceitual e intelectual

Criada por Marcio Mota, a Freiheit (que traduzido do alemão significa liberdade) foi fundada em setembro de 2019. Seguindo a linha de alfaiataria com um “perfume street, cheia de personalidade”, a principal característica da marca, nas palavras de Mota, é “a busca pela profundidade conceitual e intelectual”.

Essa característica é refletida nas roupas através das modelagens amplas e quadradas, que se adequam em todos os corpos, e que não se prende a estações.

Para sua primeira coleção apresentada na 25ª edição do SPFW – Flagwear –, Marcio Mota conta que utilizou subliminarmente bandeiras da marca que simbolizam liberdade. Os grafismos geométricos foram incorporados às roupas criando recortes e encaixes coloridos por toda a coleção.

 
 
 
 
 
Ver essa foto no Instagram
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por A T E L I E R F R E I H E I T (@atelier.freiheit) em

  • Martins: modelagens amplas e democráticas

Criada por Tom Martins e fundada em 2016, a Martins foi fundada com o desejo de se criar peças que servissem para todos. Embora seja um clichê, o estilista explica que criou a marca porque não encontrava roupas que fossem do seu gosto, devido ao seu tamanho “grande”.

É a partir de sua própria necessidade que Tom criou peças com modelagens amplas e democráticas, em sua grande maioria sem gênero e de tamanho único: camisas e túnicas estampadas com padronagens clássicas como listras e xadrezes, por exemplo. Um dos best-sellers é o macacão jeans, com barras irregulares e desfiadas.

Sua estreia no SPFW será, na verdade, sua coleção número 10. Apresentada por meio de um fashion film, o desfile será um review de toda a história da marca, para não somente apresenta-la, mas, também, divulgar as possibilidades de uso dos produtos. Com sua estreia no SPFW, Tom quer que os valores da marca atinjam um número maior de pessoas.

 
 
 
 
 
Ver essa foto no Instagram
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por MARTINS (@martins__________) em

  • Misci: foco na identidade brasileira e na sustentabilidade

Criada por Airon Martin, a Misci é um neologismo da palavra miscigenação, termo que mais aparece nos estudos de formação de identidade da estética brasileira.

Quando questionado sobre o estilo e o propósito da Misci, Martin explica que, partindo de uma análise histórica, ele percebeu que temos poucos registros de de imagem na construção de uma identidade no design. Formado em Design de produto, o estilista observou que o Brasil teve uma construção de identidade muito mais elaborada no mobiliário, do que no vestuário.

Sua constatação é que a construção estética do design nacional deve ser uma estética multicultural. A população brasileira é extremamente miscigenada, resultado de uma mistura entre europeus, índios e africanos e africanos.

Além de priorizar esse multiculturalismo, Martin relata que a sustentabilidade é sua principal ferramenta para o desenvolvimento dos seus produtos – não somente no material, mas na otimização do uso. Um exemplo disso são os botões utilizados nas peças: 100% sustentáveis, feitos com borra de café ou papel reciclado.

Para a 25ª edição do SPFW, a Misci trará a coleção “Brasil Impúbere”, que fala sobre a fase da puberdade. Nas palavras do estilista, "as modelagens refletem essa indecisão que vem muito forte na puberdade, desconstruindo o conceito de masculino e feminino que a sociedade impõe. As peças são únicas, como o vestido com corte de blazer 'masculino'”.

O fashion film também chama atenção para questões ambientais, gravado na região de Atafona, São João da Barra, no litoral do Rio de Janeiro. O local está sofrendo um desastre ambiental no qual o mar avança cada vez mais em direção a construções costeiras.

 
 
 
 
 
Ver essa foto no Instagram
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por misci (@misci__) em

  • Renata Buzzo: etiqueta vegana e reutilização de resíduos

A marca homônima da estilista Renata Buzzo, que já participou do Green Talents (evento da Vogue Itália), e do Vancouver Fashion Week, em 2014, estreará no SPFW focada, essencialmente, no viés da sustentabilidade.

O grande diferencial da marca é sua etiqueta vegana, ou seja, que não utiliza nenhuma matéria-prima de origem animal. Além disso, os resíduos das peças são sempre reutilizados: ao invés de serem descartados como lixo, são usados em bordados, por exemplo.

Para o SPFW, Renata apresentará sua coleção “Estudos Melancólicos”, inspirada em um poema escrito por ela mesma. "As roupas e a cartela de cores conversam com o tema do texto que fala sobre melancolia, medos e algumas questões femininas", explica Buzzo para o site da Vogue.

 
 
 
 
 
Ver essa foto no Instagram
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por R E N A T A • B U Z Z O (@renatabuzzo.veglab) em

Todas as apresentações serão transmitidas ao vivo pelo @spfw. Também dá pra acompanhar todos os detalhes pelo portal FFW :)

**

Fontes consultadas: Vogue Brasil e FFW.

Foto da capa: Misci para o FFW.

Publicidade

Como anunciar?

Mostre sua marca ou seu negócio para Londrina e região! Saiba mais