A moda é um sistema que acompanha todos os acontecimentos do mundo!

Como um fenômeno histórico-social-cultural, que se manifesta por meio de hábitos, valores e costumes, a moda sempre fará o percurso de estudar o passado -> compreender o presente -> planejar o futuro. Nunca sob um olhar inocente, mas sempre intencional – o sistema da moda corresponde a uma mentalidade social. 

Mas, e quando presente e futuro se tornam imprevisíveis?

Após a eclosão da Primeira Guerra Mundial, as mulheres começaram a trabalhar, tarefa que antes pertencia somente aos homens. O trabalho exigia roupas mais práticas e confortáveis, foi então que sugiram para as mulheres alguns uniformes e calças, seguindo o estilo militar, acompanhadas por cintos e palas. Gabrielle Chanel (para os íntimos ~ Coco Chanel ~), inspirou muitas mulheres com a moda com um toque masculino, enquanto o clima global acelerava suas liberações.

Já após a Segunda Guerra, Christian Dior criou o New Look - que na contramão do minimalismo forçado pela guerra e a consequente racionalização de tecidos, veio como um resgate da feminilidade e uma resposta alegre para a libertação de Paris.

Embora guerra e pandemia sejam coisas distintas, ambas compartilham uma escala global e impactos econômicos significativos. Afinal, como o mercado da moda tem reagido à este cenário totalmente atípico – e mais do que isso, como ele responderá nos próximos anos?

Impossibilitados de sair de casa (principalmente agora, após um catastrófico aumento de casos), o consumidor tem (literalmente) na palma de sua mão, infinitas possibilidades de compra. Se antes a procura por peças de qualidade já eram comuns, a pandemia veio para intensificar a moda com um caráter mais relevante, sustentável e consciente. Cada vez mais, os consumidores cobrarão uma postura mais sustentável de marcas e irão querer conhecer mais de perto o processo de produção. 

De fato, a moda é uma interpretação do momento. E essa interpretação, por si só, é um grande desafio! 

Pensando nisso, a Consumoteca fez uma pesquisa muito interessante com brasileiros de diferentes gêneros, regiões, classes sociais e idades, para entender o comportamento do consumidor neste cenário pandêmico. Alguns dados que vou mencionar a seguir foram exibidos em uma matéria da Revista Cláudia, que pode ser vista na íntegra aqui.

Para Michel Alcoforado, antropólogo e sócio da Consumoteca, a pandemia impacta absolutamente todos os aspectos de nossa vida, inclusive em nossa decisão de compra. O mercado de bebidas, por exemplo, se deu bem. Agora não é necessário esperar por aquele happy hour na sexta-feira (você pode beber em casa, todos os dias!). 

Porém, na moda, a situação é oposta: se antes ela era um mercado muito contextualizado, ou seja, que as pessoas consumiam quando tinham algum motivo (como comprar uma peça de roupa para ir em algum evento no fim de semana), hoje, a moda passa por um processo de descontextualização. Segundo a pesquisa da Consumoteca, houve uma queda de 78% das vendas no mercado.

A pesquisa também aponta que 45% dos entrevistados afirmaram que passarão a usar roupas mais básicas no dia a dia após a pandemia. Este ‘retorno ao básico’ já estava em curso antes da pandemia, porém, foi intensificado pela crise. 

E por falar em crise: a pandemia acelerou de 5 a 10 anos o planejamento das empresas de moda! 

Nas palavras de Alcoforado, “esse novo estilo faz parte de uma grande mudança cultural que vem acontecendo no mundo inteiro. É o perfil de um consumidor jovem, que segue alguns influenciadores e que está disposto a gastar com roupas casuais e exclusivas que comunicam algum conhecimento interno”.

Em tempos 100% digitais, a pesquisa também aponta que estamos vivendo o que chamamos de “Moda em Rede” – uma macrotendência que indica uma renovação na cadeia de produção até o consumo do produto final. 

Hoje, os “cyber-consumidores” se interessam cada vez menos pelas passarelas e pautam seus estilos, cada vez mais, no que é exibido nas redes sociais. Outro ponto interessante é que as pessoas têm se interessado, também, em influenciadores que mostram o que tem no armário, naquela pegada “gente como a gente” (ao contrário dos looks inacessíveis das celebridades). 

Menos é mais tem sido a palavra de ordem do momento. 

Essa nova consciência social promovida pela pandemia tem feito com que as pessoas consumam produtos de marcas que agregam valores. O desafio do mercado é, então, é cuidar de toda a cadeia produtiva para serem aceitas por esse novo consumidor.

A Vogue, após entrevistar diversos estilistas famosos ao redor do mundo, também fez suas apostas para o futuro da moda pós-pandemia. Publicado originalmente na Vogue Business, as principais macrotendências, de acordo com a revista, serão:

  • Inspiração: Proteção e otimismo

O consumidor do presente e do futuro busca sempre estar protegido. A proteção será essencial, seja nas máscaras, luvas ou desenvolvendo novos tecidos. Nossos gestos mudaram, então as roupas também precisam se adaptar. Uma das respostas da indústria à pandemia será, também, um maior desenvolvimento de tecidos tecnológicos, em termos de lavagem ou até antibacterianos.

No quesito “otimismo”, alguns estilistas optarão por trazer mais leveza e cores, baseado no conceito “liberdade apocalíptica imposta”. 

O diretor criativo da Lanvin –  Bruno Sialelli, diz que algumas grifes “oferecerão sonho, ingenuidade e escape”. Já o diretor criativo da KenzoFelipe Oliveira Baptista, diz que a grife também está ancorada no otimismo, pois “o futuro precisa disso para alimentar a esperança. Essa é a hora de ser criativo e diferente.”

  • Coleções simplificadas

Por conta do trabalho remoto, os estilistas têm se reinventado, superando obstáculos logísticos. Ao contrário das coleções gigantescas e super elaboradas, as grifes têm optado por coleções-cápsula. 

O exemplo de Rabih Kayrouz também aponta para uma interessante melhoria no cenário pandêmico: para a temporada de verão 2021, o estilista optou em usar seu próprio estoque de tecidos, como uma espécie de reciclagem interna. Ele também optou por reduzir para duas coleções ao ano, produzindo somente o necessário.  

De fato, o mundo “pós-pandemia” será beeeem diferente do que vivemos meses (que mais parecem anos!) atrás. Eu poderia resumir todo esse texto na seguinte frase: as marcas que quiserem continuar no mercado, vão precisar, sem mais desculpas, serem transparentes e sustentáveis. 

O “novo normal” exigirá uma maior sensibilidade dos estilistas, que precisarão traduzir em suas peças proteção, conforto e valores. 

O saudoso Karl Lagerfeld, ex-diretor criativo da Chanel, Fendi e fundador de sua marca homônima, costumava dizer que "calça de moletom era um sinal de fracasso". Em tempos de home office e comfy style, talvez Karl mudasse de ideia e revolucionaria o cenário da moda com uma coleção incrível, protagonizada por shapes soltos e tecidos confortáveis.

Se isso aconteceria ou não, a gente nunca vai saber. 

Mas é bem verdade que eu estou neste momento, escrevendo este texto, com a minha calça de moletom... 

...aguardando, ansiosamente, tudo isso passar.

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Capa: Desfile de inverno 2020 da Marine Serre (Getty Images, retirado do site Vogue).

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