Diogo Moncorvo, um jovem soteropolitano, juntou o rap, o samba, o hip-hop, a poesia e todas a inquietações que viveu como um negro periférico na Bahia e se transformou em Baco Exu do Blues, um fenômeno da música brasileira. Aos 23 anos, Baco tem dois discos lançados: Esú (2017) e Bluesman (2018) e é com o repertório dos dois que o artista se apresenta em Londrina no dia 13 de abril, no Escritório Bar.
A representatividade, os estereótipos, preconceitos, a autocrítica e a autoaceitação da pessoa negra no Brasil são temas predominantes nas músicas dos dois álbuns de Baco e são influenciadas por experiências próprias do artista que vive essa questão na pele. Não vou discorrer sobre elas neste texto, pois não estou na minha posição como uma mulher branca, porém convido a todos os leitores do Londrinando que ainda não conhecem a obra a refletirem sobre as letras.
De todo modo, as músicas desse jovem bluesman tupiniquim me incita diversas outras reflexões que gostaria de compartilhar com vocês antes do show aqui na cidade. Acompanhem comigo:
Como o conceito da masculinidade tóxica deve ser quebrado
Sua expectativa em mim está me matando
Homem não chora, f******, eu tô chorando
Meninos aprendem desde pequenos que devem ser "machões", que não podem chorar e que não podem ser sensíveis. Esse tipo de criação causa sérios impactos na vida deles enquanto crescem e depois de adultos e além de como eles se enxergam e se sentem, isso acaba se refletindo na maneira como eles se comportam na sociedade. Não é à toa que o índice de suicídio entre homens é muito mais alto que entre mulheres: de acordo com o Mapa da Violência de 2017 da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), os homens se matam quatro vezes mais que as mulheres no Brasil, justamente por se sentirem obrigados a sufocarem tudo o que sentem.
Felizmente, a masculinidade tóxica, que é essa noção de que o homem não pode lidar com sentimento porque sentimento é coisa de mulher, está sendo cada vez mais discutida e quebrada e artistas como Baco Exú do Blues exercem um papel fundamental ao trazer o assunto à tona e falar que expectativas irreais adoecem e matam.
Tá tudo bem se mostrar vulnerável e pedir ajuda
'Tô entre tirar sua roupa e tirar minha vida
Procuro um motivo pra sair da cama e melhorar meu autoestima
Baco admite que se sente depressivo e tem problemas de autoestima não só em suas letras, como também em entrevistas que dá. Ainda existe muita gente que acredita que problemas relacionados à saúde mental devem ser guardados em segredo, mas sufocá-los pode potencializá-los e causar ainda mais danos. Ter artistas tão representativos que nos mostram que está tudo bem ser vulnerável e falar que a autoestima nem sempre fica lá em cima já é um grande passo para conscientizar e ajuda as pessoas que sofrem com as mesmas questões a buscar ajuda com amigos, familiares, ou profissionais.
Padrões de beleza não estão com nada
Autoestima pra cima, meu cabelo pra cima
Apesar de, em algumas letras, admitir que tem problemas com autoconfiança e autoestima - assim como todo mundo - Baco também foca muito na questão da identidade e representatividade negra e na questão de não precisar seguir padrões de beleza impostos pela sociedade, como os cabelos lisos por exemplo. O black power é lindo. A pele negra é linda. Ser quem você é é lindo e a gente precisa entender isso toda vez que nos olhamos no espelho.
Não vale a pena continuar em relacionamento que te faz sofrer
Amor, você é como o sol
Ilumina meu dia, mas queima minha pele
[...]
Ilumina o meu dia, mas
Não mais
Vamos parar com essa história de amor romântico que a gente vê todo dia nos filmes, séries e nas músicas que não retratam o mundo real como as do Baco. Só o amor não basta, gente. Não adianta ficar com alguém que "ilumina o seu dia, mas queima a sua pele". Se te faz mal, de qualquer jeito, CAI FORA! Isso tem muito a ver com um tema que - você já deve ter percebido - está muito presenta nos álbuns do rapper: a autoestima. Seja mais você. Se ame e se trate bem antes de qualquer outra pessoa.
Apesar de não parecer, tem mais gente perdido na vida
Faculdade ou seguir meu sonho?
O que que eu faço da vida?
(Também da "Me Desculpa, Jay-Z)
É horrível, eu sei, mas é normal se sentir perdido e não saber o que quer fazer da vida. Não é só você que está assim. Você não está sozinho. O Baco Exú do Blues também se sente assim. Eu também me sinto assim. Apenas se lembre de que você tem o seu tempo de se descobrir e de fazer as suas coisas. Esqueça a pressão que vem de fora e se descubra sozinho. Se você tentar apressar as coisas, pode fazer e ser algo que não gosta e viver uma vida inteira de frustrações.
Saúde mental não é brincadeira
Outra vez no psiquiatra
O que é claro pra ele
Pra mim tem forma abstrata
Depressão não é "mimimi". Não é só levantar da cama, se esforçar e ter força de vontade. Saúde mental é coisa séria e deve ser tratada como qualquer outra doença física. Ainda existe um estigma em torno de doenças psicológicas por elas terem sido tratadas no obscurantismo por muito tempo. Artistas como Baco estão as trazendo à luz e quem convive com elas, agradece.
QUER APRENDER TUDO ISSO AO VIVO?
A gente não ia perder a oportunidade de dar a chance ao leitor do Londrinando de poder aprender todas essas lições maravilhosas de GRAÇA. Corre lá no nosso Instagram e participe do nosso sorteio. Você pode levar um par de ingressos para o show dess bluesman sensacional:
E para quem já quer se programar, aqui estão as informações completas do show:
Data: 13 de abril
Hora: 22h
Local: Escritório Bar (Rua Francisco Salton, 375)
Para informações sobre valores e pontos de venda de ingressos, clique aqui.