Diversidade

Se enxergar nos muros da escola: estudantes do Conjunto Lindóia fazem mural sobre Consciência Negra

por Mariana Paschoal 13.11.19

No Brasil, 55,8% da população se declara preta ou parda. No entanto, não é essa face afrodescendente do país que aparece, e um dos maiores problemas enfrentados pela população negra é a falta de identificação, visibilidade e senso de pertencimento. O Dia da Consciência Negra, por exemplo, é uma data que ajuda a trazer à superfície das nossas discussões essa questão racial no Brasil. Aqui em Londrina, um colégio estadual leva isso muito à sério.

O Colégio Estadual Carlos de Almeida fica no Conjunto Lindóia, na Zona Leste de Londrina. Ele está inserido em uma região de periferia e de baixa renda e é essa população atendida pela escola que, muitas vezes, fica invisibilizada. “Geralmente já há um preconceito embutido em cima da escola por ela estar em uma região de periferia. As pessoas nem conhecem o espaço, muito menos os trabalhos desenvolvidos dentro dele, e já acham que a escola é ruim”, afirma o diretor Alesandro Antunes Ribeiro. “Então pensamos em um projeto que nasceu da vontade de melhorar o ambiente escolar para os próprios alunos e desenvolver um senso de pertencimento a esses jovens”, continua. Foi aí que nasceu o projeto de pintar os muros do colégio - mas não seria qualquer pintor, grafiteiro, nem mesmo os professores que iam colocar a mão na massa. Seria tudo executado pelos próprios estudantes. E deu certo.

Os trabalhos começaram em sala de aula, na disciplina de artes, com estudantes do ensino médio e fundamental. O gancho e a inspiração para as artes veio justamente do Mês da Consciência Negra, comemorado em novembro. “Começamos a trabalhar a questão étnica, a cultura afro, a história da África e a arte contemporânea”, explica a professora de artes, Verginia Gibellato.

Apesar de os murais serem trabalhados dentro da disciplina de artes, o projeto é multidisciplinar e envolve outras áreas como a sociologia, a educação física e a língua portuguesa, todas interligadas para não somente fazer arte, mas entender o porquê daquela arte e a importância de se discutir a cultura afro e a própria consciência negra. “Passamos todo o conhecimento por trás desses desenhos. Temos o símbolo da cultura afro, que é a árvore Baobá, temos a questão da mulher representada por uma mulher negra, entre outros elementos”, esclarece a professora. Como a história da África já está inserida na grade curricular as escolas estaduais, o projeto aproveita para ensinar essas questões na prática, enquanto os alunos pintam os muros do local em que eles passam grande parte do dia. “A gente vê tudo isso em sala de aula, mas é importante que eles também consigam visualizar na prática”, continua Verginia. 

“A beleza do mural não é só para os alunos. É também para a população em geral e tem a intenção de tentar mudar a mentalidade das pessoas, mostrar que o colégio é um espaço bonito e cultural”, confirma o diretor do Carlos de Almeida. A professora Verginia concorda e ainda acrescenta que foram descobertos talentos dentro da escola. “Eles sentem que pertencem à escola, pois a obra deles está nas paredes ela. Temos alunos negros trabalhando nisso e eles mesmo afirmam o projeto permite que eles mostrem a raça deles na parede do lugar em que estudam e que isso é muito gratificante”, conclui a professora.

Segundo o diretor do colégio, se enxergar nos muros do Carlos de Almeida e sentir que é pertencente à população extrapola essas próprias paredes. “Temos uma comunidade negra no Lindóia. A comunidade também se enxerga aqui”, finaliza.

Para conferir o trabalho dos alunos, o colégio fica na Rua Florestópolis, 457. Difícil é passar por lá sem ficar boquiaberto com as artes.

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