Quem vê Londrina assim, no alto dos seus mais de 500 mil habitantes e com o título de um dos municípios mais verticalizados do Brasil, tem dificuldade em imaginar a cidade com 134.821 moradores, poucos prédios, ruas de paralelepípedos… Pois era essa a realidade londrinense em 1960, quando a cidade vivia um “boom” de modernização e urbanização impulsionados pelo café. E foi naquele ano que o Edifício América, famoso por abrigar o “Relojão de Londrina”, foi inaugurado.

Avenida Paraná com o Edifício América em construção (década de 1950) - Acervo Museu Histórico de Londrina

O relógio do Edifício América era um dos maiores do país na década de 60 e se tornou referência turística e, claro, uma utilidade pública em um tempo em que não se tinha celulares ou até mesmo condições de se ter um relógio de pulso.

Acervo Museu Histórico de Londrina

O monumento londrinense pode ser visto de diversos pontos da cidade, principalmente do Centro, e é difícil encontrar alguém que não o conheça. No entanto, o que pouca gente sabe é como ele é mantido em funcionamento e quem garante que os ponteiros de mais de três metros continuem funcionando. Estamos aqui para contar essa história:

"Senhor Ueda do Relojão"

Um jovem relojoeiro paulista de 26 anos chegava a Londrina em 1963 para abrir sua própria relojoaria. A história de Tetsuo Ueda em nossa cidade começou aí, quando ele e o irmão abriram as portas da primeira loja da família, na Rua Santa Catarina, bem no coração do município. E foi no coração de Londrina que os Ueda permaneceram. Tetsuo desfez a sociedade com o irmão em 1969 e passou a comandar sua segunda relojoaria sozinho, dessa vez na Rua Mato Grosso até passar para o ponto em que permanece até hoje, na Rua Sergipe.

Das lojas do Centro Histórico, Ueda observou o crescimento da cidade. As ruas de paralelepípedo se tornaram asfalto, os prédios brotaram em todos os cantos. E esse desenvolvimento também foi acompanhado do alto dos 15 andares do Edifício América, pois a partir de 1972, o relojoeiro também assumiu a manutenção do Relojão. “Quando eu cheguei, em 1963, já existia o Relojão, mas não tinha ninguém responsável pela manutenção e ele ficava sempre parado, precisavam de alguém que entendesse da máquina daquela marca específica”, comenda Ueda.

Foi em 1972 que ele começou a trabalhar com a assistência da fábrica do Relojão, que é a Dimep. "Logo que eu assumi a posição, o dono do Relojão à época entrou em contato com a fábrica em busca de alguém para consertar a máquina, que vivia parada. A Dimep então recomendou o meu nome e continuei com a manutenção até os dias de hoje”, conta Ueda.

Do começo da década de 70 para cá, o dono do Relojão já mudou diversas vezes. O relojoeiro permaneceu. E ele nem precisa que alguém entre em contato caso algo aconteça com o relógio. O cuidado é tanto que Ueda está sempre de olho no relógio gigante e a qualquer sinal de interferência nos ponteiros, ele vai lá e corrige.

A herança do ofício

Atualmente, quem faz as honras é o filho de Ueda, Carlos, que assumiu a manutenção do Relojão há pouco tempo. Farmacêutico por formação, Carlos não conseguiu "fugir" do trabalho como relojoeiro. Mas ele também nem queria. Ao crescer dentro das lojas do pai e ao observar o patriarca trabalhando e consertando minuciosamente os relógios durante toda a infância e adolescência, foi natural que ele tivesse curiosidade e vontade de fazer o mesmo. “A gente cresceu dentro da relojoaria, sempre tivemos curiosidade em aprender a consertar relógios e o pai ensinava”, relembra Carlos. “Começamos a desmontar os relógios e na hora de montar de novo sobrava um monte de peça. Precisávamos da ajuda do pai para montar corretamente e fomos aprendendo”, continua. Dos três filhos de Tetsuo, dois (contando com Carlos), trabalham na loja.

Para Carlos, o orgulho em assumir essa responsabilidade é dobrado. Além de continuar o trabalho que o pai fez por várias décadas, ele também é incubido da tarefa de cuidar de algo que é referência em Londrina, cidade que abrigou a família com muito carinho.

Londrina é feita por londrinenses e por trás de cada prédio histórico, turístico e importante para a cidade existe alguém que cuida com muio carinho para que os outros habitantes e visitantes possam usar, admirar e também cuidar. Ao manter o Relojão em funcionamento, Carlos e Tetsuo não deixam a cidade atrasar.

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