O Brasil tem 28 milhões de empreendedores homens e 24 milhões de empreendedoras mulheres de acordo com uma pesquisa do Sebrae de 2018. O número não parece muito destoante, não é mesmo? Mas quando vamos comparar o número de "donas de negócio" com "donos de negócio", a diferença entre homens e mulheres fica mais clara: São 18,1 milhões de donos de negócios homens contra 9,3 milhões de mulheres. Empreendedores são aqueles que têm um negócio ou realizaram alguma ação nos últimos 12 meses visando ter o próprio negócio. Donos de negócios são aqueles que já estão à frente de um negócio como empregador ou conta própria. Esses dados mostram que a conversão de “empreendedoras” em “donas de negócios” é 40% mais baixa. Ou seja, há uma desistência maior por parte das mulheres. Por que você acha que isso acontece? Foi essa pergunta que fizemos a donas de negócios londrinenses para tentar entender o papel e a importância do sexo feminino no mundo do empreendedorismo.

“O desafio para a mulher é maior. A mulher é mais maternal, ela assume tudo. Ela tem muitas funções. E o Brasil ainda está mais aberto para os homens. Eu sinto que estamos mudando essa realidade, mas ainda é assim que funciona”, afirma Vânia Melo Brandão, proprietária da Lip Laser (empresa de estética) há 13 anos. Com essa fala, começamos o bate-papo com empreendedoras londrinenses que comprovou que o caminho para a mulher costuma ser maior e mais difícil. O número elevado de obstáculos na trajetória de uma mulher é uma realidade por diversos fatores. 

Empreendedorismo e maternidade

A maternidade é um deles. Das cinco entrevistadas, três já são mães e uma está grávida. E quando falamos em mães e mercado de trabalho, é inevitável que as duas realidades se choquem em algum momento. “Se a minha filha fica doente, ou eu vou para a escola, ou eu cuido dela. A mãe sempre vai ter essa dupla função enquanto o pai não tem essa preocupação”, conta Cristiane Trevisan proprietária da Royale Escola de Ballet. E essa realidade é comprovada por dados do Sebrae, que mostram que as mulheres empreendedoras são cada vez mais “chefes de domicílio”. A parcela de "dona de negócio' que trabalha no domicílio também é expressiva: 25% delas trabalham em casa enquanto apenas 6% dos homens fazem o mesmo.

“Quando eu era mais nova e tinha filhos pequenos, todo mundo me falava que eu tinha que escolher entre ser uma excelente profissional e executiva, e ser uma excelente mãe. Hoje eu posso dizer que a gente pode ser os dois”, afirma Vânia que já passou por poucas e boas por ser mulher. Além desses questionamentos, a proprietária da Lip Laser também nos conta que, quando casou pela segunda vez, ela já tinha a empresa e, mesmo assim, em reuniões com contadores e fornecedores ela sempre ouvia “estou aguardando seu marido para começarmos”. “O meu marido é o homem que eu amo, ele não tem nada a ver com a minha empresa e mesmo assim as pessoas atribuíam mais credibilidade a ele do que a mim”, relembra.

Vânia Melo Brandão, proprietária da Lip Laser

Angélica Dubuc, proprietária da pastelaria Madame Gourmet desde 2015, também passou por experiências parecidas. “A minha maior dificuldade era na parte de negociação. Como trabalho com comércio, sempre foi difícil ter que vender para homens. À princípio, eles esperavam meu marido para começar. Quando eu tinha um food truck e chegava nas cidades, chegaram a me perguntar ‘quem veio dirigindo?’”, recorda. Nesse momento, e sendo dona do próprio negócio, Angélica, assim como as outras entrevistadas, é peça chave na descontrução de uma sociedade que vem sendo dirigida por homens há muito tempo. A porcentagem de mulheres à frente de empreendimentos iniciais já é de 48%. Elas estão assumindo a direção.

Angélica Dubuc, proprietária da Madame Gourmet

“Em uma família, com um homem e uma mulher, se alguém vai desistir primeiro, esse alguém vai ser a mulher”, reflete Cris sobre os dados do Sebrae. “A mulher desiste por falta de incentivo. O homem está 100% dedicado no negócio. A mulher pensa sobre com quem vai deixar o filho, quem vai pegá-lo na escola, e tudo isso faz ela se sentir culpada”, pondera Vânia.

Cristiane Trevisan, proprietária da Royale Escola de Ballet

Credibilidade feminina x Credibilidade masculina

O caminho para quem não é casada e não tem filhos não costuma ser mais fácil. É o exemplo da Vanessa Melo, proprietária da Inácia AtelierAo ter conhecimento sobre os dados do Sebrae, Vanessa se lembrou da própria trajetória. Ela começou o próprio negócio assim que saiu da faculdade. “Eu trabalhava em outro lugar em horário comercial, chegava em casa e virada a noite costurando”, relembra. Nesse processo, ela sofreu muito preconceito - e de mulheres. “Elas perguntavam se eu ia dar conta e precisei mudar minha cabeça para não abandonar o meu sonho. Foi então que abandonei tudo para trabalhar em tempo integral no atelier”, diz. “Tive que me posicionar, me impor, mostrar a minha cara e negociar com fornecedores - na maioria homens - com propriedade”, continua a empreendedora, que precisa sempre mostrar que conhece do assunto para que os outros a tratem com a propriedade e com o conhecimento que ela tem.

Vanessa Melo, proprietária do Inácia Atelier

“A mulher cuida, o homem administra”

Renata Araújo, proprietária da escola de dança Seven Hachi, está grávida do primeiro filho e afirma que trabalhar com amor e cuidado é algo muito feminino. “Uma frase que eu gosto muito é: ‘tudo com amor flui’ e se a gente colocar amor em tudo o que a gente faz, conseguimos persistir e desviar dos obstáculos”, explica. Como mulher e empreendedora, ela tira uma lição dessas dificuldades abordados pelas outras mulheres: “não é fácil, mas é muito gratificante ver várias pessoas serem abençoadas pelo seu trabalho”, afirma. "É algo da mulher: não é fácil, mas a gente dá conta", conclui.

Renata Araújo, proprietária da Seven Hachi

Essa visão vai de encontro com o que Vânia acredita: “a mulher cuida, o homem administra”. “Quem sabe não seja por isso que os funcionários respeitam mais os homens, porque a gente está sempre cuidado de todo mundo?”, diz Vânia, que ainda acredita que o governo deveria criar incentivos para igualar as realidades entre homens e mulheres. “É um grande desafio, mas a mulher tem uma força interior muito grande. A gente consegue enfrentar todos esses desafios mencionados e ainda ouvindo opiniões contrárias”, corrobora Cris. "A gente faz por amor. Se a gente não tivesse esse amor, esse cuidado que a gente tem, provavelmente a gente já teria desistido de tudo", finaliza Vanessa.

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