Bem-estar

Dia Internacional do Enfermeiro: enfermeira londrinense fala sobre rotina da profissão durante a pandemia

por Mariana Paschoal 12.05.20

Os profissionais de saúde têm ganhado ainda mais destaque nos últimos meses devido à pandemia do coronavírus. E não é por menos: são eles que arriscam as próprias vidas diariamente na linha de frente contra a Covid-19. Para homenageá-los, e para homenagear o Dia Internacional da Enfermagem, comemorado em 12 de maio, vamos mostrar como é a rotina dos enfermeiros em Londrina durante o período em que estamos vivendo.

Para isso, conversamos com Izabela Nayara Ricardo. Izabela é enfermeira há seis anos e trabalha em uma Unidade de Terapia Intensiva Adulto em um hospital de nível terciário (hospitais que atendem casos muito graves e cirurgias de grande porte) e filantrópico. Atualmente, Izabela atua na coordenação da equipe de enfermagem do hospital. Apesar de não atender diretamente o paciente portador de Covid-19, a profissional da saúde já sentiu algumas mudanças na rotina do enfermeiro devido à nova doença. “Nunca se atentou tanto às técnicas de enfermagem como a lavagem das mãos, uso de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs), desinfecção de superfícies e outras técnicas inerentes à patologia do Covid-19, por exemplo”, conta.

Alguns outros procedimentos de rotina também foram adotados depois que a pandemia começou. Izabela elenca alguns: “os colaboradores da linha de frente são orientados a não trabalhar com suas próprias vestimentas, mas sim a utilizarem um uniforme específico para esses casos, que é o uniforme privativo. Eles precisam retirar esse uniforme cada vez que se ausentam do seu setor, como, por exemplo, para seus horários de descanso”. A enfermeira explica que, cada vez que entram ou saem do quarto dos pacientes com Covid-19, seguem um “ritual” de vestimenta/retirada de avental, luvas, óculos de proteção, gorro, máscara… E isso acontece todas as vezes que o profissional entra no quarto do paciente, por mais curta que for a visita. “A exaustão física também aumenta, pois trabalhamos de máscara durante toda a jornada de trabalho”, fala.

Outro aspecto que mudou bastante na rotina da enfermagem, segundo Izabela, é o de se adaptar com a distância entre os pacientes e seus familiares, pois o enfermeiro também é responsável pelo atendimento das famílias. “Isso tem sido um desafio mesmo no atendimento a pacientes com outras patologias, pois a redução de visitas e acompanhantes é necessária para todo o hospital neste momento”, conta. “É angustiante, muitas vezes, não permitir a permanência de um ente querido ao lado do paciente, pois sabemos que o bem estar psicossocial é necessário para o enfrentamento da enfermidade”, continua. Algo que também acontece, de acordo com a enfermeira, é que muitos pacientes pedem uma visita pastoral (padre, pastor ou outro líder de sua crença), mas o momento em que vivemos obriga os profissionais e o hospital a impor restrições. “Já vivi situações em que foi o enfermeiro quem orou com esses pacientes”, relembra Izabela.

Mudanças na rotina individual

O perigo iminente da contaminação pelo coronavírus não afeta somente os profissionais da saúde que têm contato diário com pacientes infectados. Esse perigo se estende aos familiares desses profissionais e às pessoas que moram com eles. Por isso, Izabela percebeu que a maior mudança de rotina desses profissionais acontece no âmbito individual: muitos colegas de profissão dela, neste tempo, optaram por uma rotina de isolamento social, ou seja, optaram por se isolar de seus familiares a fim de protegê-los. “Muitos dizem que não pegam seus filhos no colo há dias, dormem em quarto separado de seus cônjuges, ou, como é meu caso, não visitam os pais. Isso já é uma enorme mudança no estilo de vida”, relata.

Izabela ainda conta que alguns de seus colegas tentaram sair de suas casas nesse período, mas tiveram que voltar por não conseguirem carregar o peso e o estresse do isolamento. E o estresse não fica só no horário de expediente: a enfermeira afirma que, quando os profissionais de saúde chegam em casa, pensam em cada passo que dão, em onde podem deixar suas coisas, em onde podem sentar e colocar a mão… “Tudo o que fazemos é pensar em não contaminar as pessoas que vivem conosco”.

Desafios da profissão

“Hoje há uma grande luta da enfermagem junto aos seus órgãos regulamentadores em busca de melhores salários e redução da jornada de trabalho”, esclarece Izabela. Segundo ela, nesse contexto, há enfermeiros e técnicos de enfermagem que trabalham em mais de um local de saúde, se privando de muitas horas de sono e de convívio social e familiar para receberem apenas a remuneração necessária para o sustento. Outro grande desafio que muitos profissionais precisam enfrentar, na opinião de Izabela, é a dificuldade de incentivo financeiro e tecnológico no Sistema Único de Saúde (SUS), pois em muitas instituições pelo país há um grande sucateamento de recursos e infra-estrutura, inchando o sistema, principalmente em UPAs e Pronto-Socorros. “Em alguns estabelecimentos há superlotações, baixo quantitativo de trabalhadores, e isso tem sido um grande fator de estresse para milhares de profissionais”, conta.

Além disso, Izabela afirma que o enfermeiro lida diariamente com a violência verbal e física da população atendida. “É importante trazer à luz que o índice de depressão e suicídio entre profissionais da enfermagem infelizmente tem aumentado nos últimos anos”, expõe. A profissional também avalia que a enfermagem é vista aos olhos da sociedade, como consequência de seu contexto histórico, como um dom, um serviço voluntário, que cuida dos mais necessitados. “Para muitos, o enfermeiro ‘ajuda outros profissionais’. Por não ser vista como uma profissão que exige conhecimento científico, ou como uma liderança nos estabelecimentos de saúde, um grande desafio do enfermeiro é ser reconhecido pela população”, informa Izabela.

Apesar dessa ideia distorcida, a profissional crava que nada acontece na vida da sociedade no âmbito da saúde quando a enfermagem não está presente. O enfermeiro está presente desde o planejamento familiar, cuidado à gestante, no momento do nascimento até o momento da morte. “A enfermagem é vital para o funcionamento dos sistemas de saúde. 

O coronavírus aparece como mais um desafio da enfermagem em meio a todo esse contexto exposto: conseguir prestar um bom atendimento ao paciente, conseguir recuperá-lo e se proteger do risco de contaminação”.

É difícil falar sobre o que sentimos como enfermeiros, pois acredito que todos nós sentimos de tudo. O enfermeiro nunca deixa a peteca cair. Quando vê a necessidade do seu paciente, faz de tudo para cuidar, aplicar seus conhecimentos a fim de alcançar o melhor resultado possível: seja um fim de vida digno ou a recuperação da saúde. Sentimos medo, ansiedade e tristeza. Mas também sentimos coragem, satisfação de ter feito tudo o que pudemos. Nos sentimos realizados e felizes quando junto com a equipe conseguimos recuperar um paciente. Todos esses sentimentos são inerentes da profissão, mas percebo que estão muito mais aflorados nesses tempos difíceis e desafiadores de pandemia”, comenta.

Mensagem à população

E por falar em tempos de pandemia, Izabela gostaria de reforçar que o coronavírus é um desafio que depende de cada um de nós. “Tomem todos os cuidados necessários, cuidem uns dos outros”, afirma. Ela também concorda que todo esse contexto gera muito estresse e ansiedade coletiva, por isso, Izabela também vê como essencial o cuidado com a saúde mental.

“Nós, enfermeiros e profissionais de saúde, não somos heróis. Não queremos ‘dar a nossa vida’ em troca da vida de ninguém. Somos trabalhadores como todos vocês e nesse momento, nossa profissão se mostra extremamente essencial, como sempre foi. A minha maior mensagem é que tenhamos empatia e cuidemos uns dos outros. Tudo vai passar”, finaliza.

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