Bem-estar

Ex-mulher doa um rim ao ex-marido e inspira compaixão em história londrinense que chegou à rede nacional

por Layse Barnabé de Moraes 29.01.19

Recentemente, uma história londrinense ganhou os holofotes nacionais, chegando até mesmo ao Fantástico: Beth Caperclaro, ex-mulher de Claus Ziegelmaier, doou um de seus rins para ele em um ato de compaixão, mas também de muita coincidência, já que as chances de um doador compatível fora da família são mínimas.

Para saber mais sobre essa verdadeira novela da vida real, conversamos com os envolvidos: Beth, Claus e Amanda Pereti, atual esposa dele. Amanda, que é casada com o Claus há 10 anos, conta que acabou ficando amiga da Beth porque era amiga da irmã dela e elas começaram a frequentar a mesma igreja: “Desde o princípio a gente se deu bem e teve um ótimo relacionamento”, conta Amanda. Ela e Beth são amigas desde 2011, por isso ela acompanhou um pouco do que estava se passando com a saúde de Claus.

 
Claus e Beth se casaram em 1998 e ficaram juntos por 17 anos

“O Claus não estava bem e desde o começo do ano [2018] ele começou a fazer hemodiálise e eu sofria muito”, explica Amanda. Quando a doença de Claus se complicou, Amanda pediu muito por um milagre:  “Eu sou evangélica e sempre orei para que Deus preparasse o melhor rim para o meu marido e uma noite eu sonhei que a Beth se direcionava a ele e o entregava um rim.  Achei o sonho esquisito, não contei nada para ninguém e continuei orando, já que até então não havia compatibilidade na família. A gente chegou ao fundo do poço e a médica sugeriu que ele entrasse na fila de transplante, mas eu sempre soube que ia aparecer uma pessoa       que ia ajudar o meu marido. E toda vez que eu orava, vinha a Beth na minha cabeça, mas eu não podia falar isso pra ninguém, porque era uma coisa muito séria”, confessa Amanda.

Os caminhos então se cruzaram de fato em pleno centro de Londrina, como conta Beth: “Estava eu trabalhando no centro de londrina e a vi passando meio rápido, com olhar pra baixo, com cara de quem tinha chorado... olhos fundos. Fui ao encontro dela e ela começou a contar que a doença tinha se agravado. Nesse momento, eu perguntei sobre possíveis pessoas que pudessem fazer exame [de compatibilidade] e me ofereci para ir aonde precisasse para tentar. Eu fui e iniciei esse processo”.

 “Quando cheguei em casa e contei para o meu marido, ele começou a chorar, porque era a última pessoa que ele imaginaria que pudesse querer doar”, conta Amanda. E a emoção seria maior ainda mais além: Beth era compatível com Claus: “Foi um milagre muito grande. Dificilmente acontece e normalmente é entre irmãos”, completa Beth. “Quando descobrimos que ela era 100% compatível, ali eu tive certeza que Deus tinha feito um milagre, porque não era possível que eles, unidos durante 17 anos, depois de 12 anos separados, se reencontrassem novamente para viver essa situação”, conclui Amanda.

Amor fraterno

A relação de Beth, Claus e Amanda já era cercada de carinho antes, mas as coisas se aprofundaram muito mais depois do transplante: “Hoje, parece piada, mas de fato ganhei um novo irmão. Ela [Amanda] me liga e eu ligo pra ela. Ele [Claus] me liga, o filho deles me liga e somos todos muito seguros de que isso foi mesmo um ato de irmão pra irmão. Tudo passou, o amor ficou pra trás e deixou espaço pra vidas em comum movidas apenas por carinho e respeito à historia vivida”.


Cartinha que Beth recebeu do filho de Claus e Amanda

Amanda vê a coincidência como um milagre: “Eu vejo como algo sobrenatural, preparado por Deus há anos. Na hora que eu a vi no calçadão, eu tinha certeza que daria certo. Eu vejo como algo divino... o amor que eles têm um com o outro é fraternal. As pessoas falam ‘como você permitiu que a ex-mulher doasse um rim para o seu marido?’. Gente, é ser humano acima de tudo. Em nenhum momento eu a vi como ex-mulher, mas como uma amiga que queria nos ajudar. Tudo isso me tornou uma mulher muito mais forte, uma mulher que nunca na minha vida eu imaginei que poderia ser. E eu falo isso com muito orgulho. Não há nada no mundo que pague o que a Beth fez por ele. Se antes a gente já tinha um bom relacionamento, é como se ela fosse minha irmã também”.

Um belo dia para salvar uma vida

O transplante aconteceu no dia 30 de novembro, foi um sucesso e, apesar das restrições alimentares e de vários cuidados, Claus segue se recuperando muito bem. Para Beth, foram sete dias no hospital e sete dias de recuperação em casa.  Ela conta que em nenhum momento pensou duas vezes sobre doar o rim a Claus. Tamanho desprendimento leva a uma reflexão: há muita gente que ainda tem receio de se declarar doador de órgãos e ela, por outro lado, resolveu doar um de seus rins, estando viva, para o ex-marido... Para Beth, é tudo uma questão de se colocar no lugar do outro sem esperar nada em troca: “Depois de reportagens de outros sites que venho acompanhando, vejo que os seres humanos vomitam coisas porque ainda não se viram doentes... eu, Graças a Deus, tive uma atitude apenas por compaixão ao próximo. Nós deveríamos olhar e ajudar o próximo para antecipar as bênçãos de Deus e não esperar sofrer um mal para entender o verdadeiro valor de uma boa ação. Penso que não precisamos esperar sofrer na pele pra acordar”


Beth, Claus e Amanda

Claus, que ganhou um rim da ex-esposa e uma nova possibilidade de vida pela frente, vê tudo isso como um milagre: “Fiquei muito emocionado porque nós vivemos uma vida juntos e eu sabia que ela tinha esse coração maravilhoso. Também fiquei muito surpreso, porque eu esperava [a compatibilidade] dos meus familiares, não de uma pessoa de fora. Eu vejo como um milagre de Deus, porque deu tudo muito certo e agora eu vejo uma nova chance de vida, pra eu poder realizar meus sonhos, poder cuidar do meu filho... vida nova. Estou me sentindo muito bem na minha recuperação, já ansioso para voltar a trabalhar, mas tudo no seu tempo. Nós já tínhamos uma relação boa e agora está mais próxima ainda, como se fôssemos irmãos. Sou muito grato a ela. É uma coisa impagável o que ela fez por mim”.

A história, digna de último capítulo da novela, foi transformadora para todos eles. Beth finaliza: “Nem eu sabia que eu seria capaz. Fui movida por uma decisão e foi algo que nunca tive dúvida. Estou mais solícita. Presto mais atenção na necessidade do outro, seja uma pessoa com fome ou uma pessoa atravessando a rua... velhinhos, crianças. Acho que me tornei um ser humano melhor não na bondade, mas na atenção que uma bondade necessita para ser praticada. Resumo simples de uma doação de rim: você dorme com um rim, acorda sem ele e salva uma vida, simples assim”.

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