Travessia é uma das minhas palavras preferidas. Tenho até tatuada na pele, pra não esquecer que tudo nesta vida se trata disso: processo.

Sinto que temos uma obsessão com a linha de chegada, com as soluções fáceis, com o que se resolve assim, num estalar de dedos e puf, pronto.

Seria ótimo, né? A gente só esquece que nada nesta vida é assim. Encontrar a saída mais rápida e indolor pode ser uma oferta tentadora... mas me parece que a direção deveria ser outra, oposta: sentir mais.

Olhar pra si dá uma trabalheira! Às vezes arde, às vezes incomoda e mostra um monte de coisa que não queremos ver; outras vezes é uma espécie de epifania, um pequeno milagre, que faz a gente entender melhor os nossos desejos e o nosso lugar no mundo – ou pelo menos no nosso mundo.

Como jornalista e curiosa que sou, tenho acompanhado atenta ao boom do bem-estar (ou wellness, como chamam) nos últimos anos. O segmento tem crescido freneticamente e abraçado outros setores, como o turismo, por exemplo, com retiros espirituais e experiências transformadoras.

A explicação é quase óbvia: as pessoas estão exaustas. Estamos vivendo mais tempo, trabalhando absurdamente e a infelicidade e a insatisfação rondam os nossos dias. Naturalmente isso faz com que busquemos por algo mais. Propósito, talvez? Essa palavrinha complicada, usada até a exaustão... e que às vezes, veja só, faz a gente até se sentir mal por não saber muito bem o que estamos fazendo aqui!

O que eu quero dizer com tudo isso é que não existe mágica e se sentir bem não é algo que se compre e pronto. Sabe aquela história de que o problema de ir para um retiro maravilhoso nas montanhas é que a gente vai junto? É preciso estar atenta: no final das contas, não importa por onde a gente ande ou que coisas incríveis a gente vivencie, ainda precisamos lidar com nós mesmas.

Viver bem, pra mim, é um movimento muito particular de cada pessoa e que pode ser resumido no ato de se olhar com mais gentileza e cuidado. Todo dia. Pode ser um alongamento pela manhã pra mim, pode ser psicanálise pra você, pode ser óleo essencial de lavanda antes de dormir pra ela, pode ser só respirar pra muitas outras pessoas. Qual foi a última vez que você fez as coisas por você?

Não existe receita: viver bem é ouvir às suas necessidades, entender que nem sempre elas serão supridas, mas mesmo assim se encarar. O que seu corpo e a sua cabeça pedem de você hoje?

É tanta voz tanta coisa feed stories boleto email a cama por fazer medo de ir ao mercado pandemia isolamento álcool em gel o celular apitando sem parar o dedo insistindo em arrastar mais e mais como se em algum tweet você fosse encontrar o que procura... ufa. Para um pouco. O que estamos procurando tanto, afinal?

Às vezes, viver bem pode ser só se permitir descansar.

Na lógica atual, que nos pede produtividade o tempo todo e que insiste em não nos deixar parar, se olhar e fazer uma pausa para ser ouvida com carinho pode ser revolucionário.

Se eu sei tudo sobre esse assunto? Claro que não! Mas estou curiosa pra pesquisar, aprender e sentir junto com você. Esta coluna é pra seguirmos juntas na travessia que é o reencontro diário com a gente; um desmanual afetivo para viver com mais autocuidado.

Foto da capa: Ginnie Hsu

 
 
 
 
 
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Uma publicação compartilhada por Larissa Arantes (@lariarantes) em

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